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Hoje desaparece-se como quem muda de rua, como quem evita a poça, como quem tropeça mas finge que foi de propósito.
Desaparece-se com elegância, dizem.
Com modernidade, dizem. Com wi-fi.
Hoje deixa-se de amar em silêncio, como quem desinstala um sentimento. Desaparece-se de alguém como se se apagasse um erro de ortografia, como se o outro fosse um lapso — e não uma pessoa.
Hoje não se diz que se vai. Vai-se. Sem porta a bater. Sem olhar para trás. Sem coragem.
No meu tempo — esse tempo que não era melhor, mas era mais inteiro — ainda se dizia. Ainda se explicava. Ainda se magoava com palavras, mas pelo menos com palavras. Hoje magoa-se com nada. Com o vazio. Com o clique que não responde.
Ghosting.
A palavra até parece bonita. Mas é só uma forma chique de dizer que alguém te apagou. Não com fúria. Com indiferença. E dói mais assim.
Porque o contrário do amor não é o ódio.
É o sumiço. É a ausência com pernas.
É o “não existes” embrulhado num “não te respondi porque a vida é assim e eu também”.
E o mais triste?
É que aprendemos a aceitar. Aprendemos a esperar por respostas que não vêm.
Aprendemos a calar perguntas que mereciam palco. Aprendemos a encolher o coração para caber nesse silêncio digital.
Mas um dia — um dia — há de haver quem fique. Quem responda. Quem diga. Quem tenha medo, sim, mas que, ainda assim fique para o medo.
E aí, nesse dia, vamos perceber que o que doeu não foi a ausência. Foi ter acreditado que era normal.
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